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MSC compra 67% da Log-In e entra em cabotagem

Fonte: Valor Econômico (14 de janeiro de 2022)

Marcio Arany, presidente da Log-in, vê diversas oportunidades de parcerias entre as empresas, mas destaca que não se trata de uma incorporação total — Foto: Roberto Moreyra/Agência O Globo


 
Correção: Diferentemente do informado anteriormente, o navio adquirido pela Log-In no ano passado não é australiano, mas construído em estaleiro chinês.
 
A venda do controle da Log-In para a MSC (Mediterranean Shipping Company), concretizada nesta quinta-feira, deverá impulsionar a demanda da companhia de cabotagem. Com a entrada do novo acionista – que é um gigante global da navegação de longo curso -, abrem-se diversas oportunidades de operações em conjunto, avalia Marcio Arany, presidente da Log-In.
 
Entre as grandes companhias que operam no transporte de carga na costa brasileira, a Log-In era a única independente, ou seja, sem uma grande empresa de navegação global por trás. Os outros dois maiores operadores são a Aliança, do grupo Maersk, e a Mercosul Line, da CMA CGM.
 
Com o leilão da oferta pública de ações, realizado ontem, a MSC (por meio de sua subsidiária SAS Shipping) passará a deter 67% do capital da empresa. As ações foram precificadas a R$ 25. Com isso, o desembolso total deverá chegar a R$ 1,75 bilhão (o equivalente a US$ 316 milhões).
 
Apesar do grande potencial de integração entre os grupos, o presidente da Log-In destaca que não se trata de uma incorporação da empresa brasileira, que seguirá buscando resultados e metas de expansão independentemente da nova controladora.
 

“A MSC já trabalha com a Log-in há anos como cliente, mas agora haverá muito mais possibilidades. Porém, pelo menos no curto prazo, não será uma relação como a da Aliança com a Maersk, ou da Mercosul Line com a CMA. Esses armadores estão mirando o ótimo global. Já nós vamos continuar buscando o que é ótimo para a Log-In”, disse Arany, em conversa com o Valor.

 
O presidente afirma que não houve diálogo entre as companhias desde que os trâmites para a aquisição se iniciaram e, por isso, os planos da MSC ainda não estão claros. Essas conversas deverão se iniciar a partir de agora, com a formalização da aquisição.
 
Na sua visão, há oportunidade para parcerias estratégicas entre as empresas, o que não era viável sem o controle acionário.
 

“Agora, há uma confiança muito maior na operação da Log-in e será possível desenhar operações conjuntas em mercados específicos. Um exemplo hipotético: com a crise argentina, a escala em Buenos Aires ficou pequena, o navio chega com pouca carga. Mas, para a MSC, é ruim tirar a marca do país. Agora, poderá usar a Log-In com um serviço feeder [distribuição com navios menores]”, diz.

 
“Será possível estruturar projetos de maneira mais consistente, porque vão ter certeza de que podem contam com o atendimento, que ninguém vai comprar a Log-In e deixá-los na mão.”
 
A aquisição não prevê aporte de capital na Log-In, afirma Arany. “A empresa não precisa e não terá injeção de recursos. Agora, se a MSC tiver algum grande projeto que demande isso, é possível.”
 
Em paralelo às mudanças no controle acionário, a Log-in vem conduzindo um plano de crescimento relevante. Em dezembro, a companhia anunciou a aquisição de uma empresa rodoviária, a Tecmar. A operação, de R$ 102,7 milhões, ainda aguarda aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
 
A ideia é incorporar a expertise da empresa com carga fracionada, além de agregar uma operação rodoviária própria. A transportadora tem cerca de mil veículos. “A Tecmar já tem uma operação paralela à cabotagem, no eixo Sul-Nordeste, ao longo da costa, então é muito complementar.”
 
Além disso, a Log-in está investindo para ampliar em cerca de 60% sua capacidade de movimentação, por meio da incorporação de mais três navios à sua frota atual, de seis embarcações. A ideia é reforçar principalmente as rotas na região Norte do país.
 
O primeiro navio já foi adquirido em fevereiro de 2021, construído em estaleiro chinês, com bandeira liberiana. Porém, ainda não foi incorporado à frota de cabotagem da companhia e vem sendo alugado para rotas de longo curso. A empresa decidiu esperar pela aprovação da nova lei da cabotagem, a BR do Mar – que flexibilizou o uso de embarcações estrangeiras na costa nacional. Além disso, não houve um aquecimento da demanda do país que justificasse a adição de capacidade.
 
“O navio deverá entrar em operação no segundo semestre deste ano – se o mercado reagir, principalmente na Zona Franca de Manaus. É difícil escolher o momento certo para adicionar um navio, porque os custos da operação estão dados, mas a demanda não. Então ele vai enchendo devagar, temos que converter carga do rodoviário. É um processo”, explica.
 
Apesar das dúvidas, o grupo também já encomendou, em outubro de 2021, a construção de outros dois navios em um estaleiro chinês, pelo custo de US$ 85,2 milhões. A previsão de entrega de cada um é de dezembro de 2023 e maio de 2024.
 
Em relação à BR do Mar, sancionada nos últimos dias, Arany considera a versão final do texto positiva. “Vai nos permitir trazer navios de forma mais fácil para a costa. Já trouxemos um navio [em outubro de 2021] pensando nisso. No caso dos dois navios encomendados, havia a opção de importá-los, mas eles teriam que vir vazios da China. Agora, já poderão fazer a primeira viagem para o Brasil faturando”, diz.
 
Todos esses investimentos estão sendo realizados parte com financiamento e parte com recursos levantados em uma oferta subsequente de ações, realizada em 2019, que levantou R$ 551 milhões, explica o diretor financeiro, Pascoal Gomes. “Hoje, a alavancagem do grupo está em cerca de 2 vezes [dívida líquida pelo Ebita]. Vemos como saudável um patamar até 3 vezes.”