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Custos corroem ganho de exportador

Fonte: Valor Econômico (01 de dezembro de 2021)

Daiane dos Santos: rentabilidade positiva em relação ao ano passado — Foto: Diego Batista/Divulgação


 
Após avançar 6,9% em 2020, a rentabilidade das exportações brasileiras deve desacelerar e crescer entre 2,6% e 3,1% ao fim deste ano, na comparação com o ano passado. Apesar de a moeda nacional ainda estar desvalorizada e os preços médios dos embarques se apresentarem em níveis relativamente altos, o aumento dos custos de produção deve tirar boa parte do ganho na exportação. De janeiro a setembro, a rentabilidade avançou 2,1% contra iguais meses de 2020, puxada por setores como extração de minerais e de petróleo, além de agricultura. No período o câmbio nominal desvalorizou-se em 5% enquanto o preço médio das exportações subiu 29,8%, e os custos de produção, 33,8%.
 
A projeção e os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Para 2022, o cenário é de desafio, apontam especialistas em comércio exterior. Com a perspectiva atual de que as cadeias globais de suprimento e de produção se recomponham no decorrer de 2022, de forma gradativa, a pressão de custos deve se manter, ao mesmo tempo em que, no cenário doméstico, espera-se um câmbio oscilante, dada as incertezas políticas e fiscais.
 

 
Daiane Santos, economista da Funcex, diz que as projeções de rentabilidade ao fim do ano consideram um câmbio entre R$ 5,50 e R$ 5,60. Num cenário mais otimista, o custo de produção e os preços de exportação manteriam níveis próximos aos de outubro, com altas de 21,8% e de 25,8% no quarto trimestre contra igual período de 2020, respectivamente. O desempenho nos últimos meses do ano levaria a um ganho de rentabilidade de 3,1% em 2021 contra 2020. Num cenário menos otimista, diz ela, o custo de produção pressionaria um pouco mais, com alta de 22,4%, e os preços médios de exportação avançariam 24%, sempre no último trimestre deste ano contra iguais meses de 2020. Isso levaria a um ganho de rentabilidade de 2,6% em 2021 contra 2020.
 
Em qualquer um dos dois quadros, diz Daiane, o câmbio e preços se comportam de forma favorável à exportação, mas o custo de produção consome boa parte da vantagem dada pelas duas outras variáveis. Além dos gargalos logísticos e de produção no mercado global, diz ela, que elevam os preços em dólar, a inflação no cenário doméstico também influencia no custo de produção. Há também contribuindo para esse custo uma política monetária restritiva que vem sendo adotada exatamente para fazer frente à inflação, diz.
 
“A boa notícia é que teremos variação de rentabilidade positiva em relação ao ano passado”, diz Daiane. Dados da Funcex, mostram, porém que o ganho não é homogêneo. O comportamento de preços ajudou a levar a uma alta de rentabilidade de 25,8% para a extração de petróleo e gás natural e de 26,9% para extração de minerais metálicos de janeiro a setembro deste ano em relação a igual período de 2020. Ao mesmo tempo houve queda do índice para veículos automotores e para máquinas e equipamentos. Nessas atividades, a redução foi de 16,2% e de 17,4%, respectivamente.
 
Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultoria, diz que os índices de rentabilidade total do ano passado e deste ano refletem uma pressão de preços mais geral que se iniciou em 2020 e se prolongou de forma mais intensa até o início deste ano. “O mundo está muito caro ainda e os preços de exportação de vários produtos brasileiros estão elevados historicamente”, diz. “Além disso não há nenhuma tendência no cenário internacional que indique queda abrupta de preços, embora haja perspectiva de normalização deles. Mas essa normalização depende de dois fatores. Do ajuste de oferta, que foi fortemente impactado pela pandemia, e pela recomposição da cadeia logística.” Esse processo, porém, diz o ex-secretário de Comércio Exterior, deve acontecer de forma gradativa, com recomposição mais definida para perto do início de 2023. Tudo isso, diz Barral, deve considerar que há ainda questões imponderáveis da pandemia, como eventuais efeitos ainda desconhecidos da ômicron, nova variante da covid-19.
 
O desafio de traçar um panorama para 2022 é grande, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Estamos sujeitos a mudanças bruscas. É só lembrar que o preço do barril de petróleo caiu de US$ 82 para US$ 72 em cerca de 15 dias”, exemplifica. Para 2022, diz ele, o que se pode dizer é que se espera um cenário de muita volatilidade cambial, como reflexo da situação política e fiscal, acrescida das eleições. “A cada pesquisa eleitoral teremos impacto no câmbio.” Ele lembra que, apesar de favorecer a rentabilidade, a desvalorização cambial também pesa no custo. A maior parte das importações brasileiras, diz, é de bens intermediários diretamente afetados pelo câmbio, o que aumenta os custos de produção.