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Campanhas sensibilizam funcionários a se vacinar

Fonte: Valor Econômico (09 de agosto de 2021)

Cristiano Brasil, da Votorantim Cimentos, diz que campanha interna lançada pelo CEO global impulsionou vacinação — Foto: Silvia Costanti/Valor


 
Mais de seis meses após o início da imunização contra covid-19 no país, empresas brasileiras veem a necessidade de manter ativas campanhas de conscientização e ações para estimular ou orientar a vacinação de seus funcionários. Há também companhias que criaram “vacinômetros” para acompanhar o ritmo de vacinados e ações para estimular a apresentação voluntária do cartão de vacinação, doando alimentos a comunidades para cada comprovação recebida.
 
“Temos visto hoje algumas pessoas com certa resistência para a vacina, até por falta de conhecimento sobre o impacto coletivo dessa decisão. Então estamos mantendo lives e campanhas de conscientização para dizer às pessoas: se você não se vacinar, irá se expor e expor os outros”, diz Mariana Talarico, diretora de cultura e desenvolvimento da Natura &Co América Latina.
 
O Brasil superou recentemente a marca de 100 milhões de pessoas que receberam ao menos a primeira dose, mas o percentual da população totalmente vacinada (duas doses ou dose única) é de pouco mais de 20%, segundo o consórcio de veículos de imprensa que traz informações a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.
 
Especialistas em saúde falam da necessidade de atingir ao menos 70% da população completamente vacinada para alcançar a imunidade coletiva. Preocupa também, no enfrentamento à pandemia atualmente, a chamada variante delta do coronavírus identificada no país em maio.
 
Diante desses números e cenário, a Natura, por exemplo, diz que está montando em fábricas e centros de distribuição as “brigadas covid-19”, compostas por funcionários e terceiros, para reforçar as inspeções nas áreas, verificando o funcionamento de barreiras físicas, o distanciamento social, a higiene e a limpeza. Com os chamados “Diálogos Diários de Segurança”, a empresa mantém na ponta a conscientização sobre a pandemia, enfatizando a importância do cuidado ativo. Também traz, segundo Talarico, informações sobre as campanhas de vacinação.
 
O executivo Henrique Vailati, líder de pessoas e cultura da Roche Diagnóstica, diz que não imaginava que existiriam tantas dúvidas a respeito da vacinação dentro do quadro de funcionários. “Somos uma empresa de saúde e as pessoas que trabalham aqui confiam na ciência, mas vimos que elas têm acesso a informações de todo tipo e folclore, e estão sedentas por informações confiáveis”, diz.
 
Por esse motivo, a empresa tem promovido comunicados internos sobre o tema, campanhas pela vacina, e em junho fez uma live com médicos e infectologistas. “A adesão foi enorme e as famílias dos funcionários também participaram. Havia dúvidas sobre efeitos de cada tipo de vacina ou se depois de tomar elas poderiam tirar férias e viajar ou até voltar à academia”, diz Vailati. A orientação foi a “de não relaxar” nos cuidados e manter os protocolos de segurança.
 
“Reforçamos que a vacinação só vai ser efetiva quando 70% da população estiver vacinada.” A empresa criou um “vacinômetro”, que indica o percentual da força de trabalho imunizada, a partir do envio voluntário dos cartões de vacinação pelos funcionários. Dos 978 empregados da Roche, 766 são elegíveis a vacina, 336 tomaram a primeira dose e 116 estão imunizados. O executivo acredita que esse número possa até ser maior porque funcionários esquecem ou não reportam a vacinação ao ambulatório da companhia.
 
O executivo acredita que esse número possa até ser maior porque funcionários esquecem ou não reportam a vacinação ao ambulatório da companhia.
 
Para estimular a vacinação e o envio do comprovante, a Ceptis, que integra soluções e tecnologias para indústria, aderiu à “Campanha SESI Cidadania Contra a Fome”, da Firjan SESI. A empresa se compromete a doar cinco quilos de alimentos para comunidades em situação de pobreza no Rio de Janeiro para cada funcionário que apresente o cartão em um posto médico da empresa. Com 100 dos 240 funcionários imunizados até o momento com ao menos a primeira dose, a empresa irá doar amanhã meia tonelada de alimentos. A ideia, de acordo com o diretor de pessoas e administração da Ceptis, Paulo Paixão, é aumentar o número de empregados imunizados e, ao mesmo tempo, ajudar na campanha contra a fome. “Fizemos isso para ficarem atentos aos calendários de vacinação da prefeitura e se imunizarem o quanto antes.”
 
Já a Votorantim Cimentos diz ter visto o número de vacinados crescer após a criação da campanha “A vida é feita para durar”, lançada internamente pelo CEO global, Marcelo Castelli, em uma live para todos os empregados no dia 22 de julho, reforçando a importância da vacina no combate à pandemia. A companhia também disponibilizou cartazes, adesivos, folhetos, vídeo e música em seu site, para que funcionários e qualquer pessoa divulguem conteúdos relacionados à importância de se vacinar. “Esperamos criar uma onda pró-vacinação que atinja a todos: empregados da Votorantim Cimentos, familiares, amigos, vizinhos, comunidades, a sociedade em geral. Quanto mais gente vacinada contra a covid-19, melhor para todos”, diz Cristiano Brasil, diretor global de gente e gestão da Votorantim Cimentos. O executivo também diz que a empresa disponibiliza transporte para os empregados se vacinarem, a depender da região onde está localizada a operação.
 
Na Aura Minerals, esse transporte está ocorrendo para funcionários da operação na cidade Pontes e Lacerda, no Mato Grosso. “Estamos falando de pessoas que têm uma carga de trabalho de muitas horas e talvez deixassem para ir se vacinar depois do trabalho ou durante o descanso.
 
Então, promovemos o transporte, seguindo as faixas etárias do cronograma, no horário de trabalho, aumentando a probabilidade de todos se vacinarem o quanto antes”, diz Paula Gerber, que gerencia a área de cultura e talento global da mineradora.
 
A empresa também diz ter colocado em murais de suas instalações, sistema de comunicação interna e refeitórios mensagens de conscientização. Na operação brasileira, 457 funcionários foram vacinados com a primeira dose – 90% do efetivo. A empresa, que opera nos Estados Unidos, México e Honduras, diz que não é possível criar uma política única para estimular ou exigir a vacinação em todos os países, porque é preciso avaliar a legislação local.
 
Neste momento, Gerber diz que estuda se será cobrado no processo de admissão o documento de vacinação contra covid-19, assim como já acontece com outras vacinas. A Roche Diagnóstica também diz que estuda esse movimento. “Se a lei permitir, vamos olhar para isso, assim como pedimos vacinação em dia para trabalhar nos laboratórios e também exigimos uso de equipamentos de proteção”, diz Vailati.
 
A advogada Caroline Marchi, sócia trabalhista do Machado Meyer, entende que as empresas podem exigir no contrato de admissão o comprovante de vacinação contra covid-19. “A febre amarela não é doença do trabalho, mas se o funcionário for trabalhar em um área de endemia a empresa pode exigir a vacina dentro das medidas de profilaxia, saúde e segurança”, diz.
 
Atualmente, avalia a advogada, há orientações oficiais com relação a protocolos de saúde e segurança que as empresas devem tomar para evitar a transmissão da covid-19, decretos municipais e estaduais que orientam a abertura de estabelecimentos e escritórios e a necessidade de medidas de profilaxia, como distanciamento, uso de máscaras, disponibilização de álcool em gel. “Dentro dessas medidas, poderia entrar a exigência da vacinação, como parte das medidas de saúde e segurança da empresa perante os funcionários. Até porque há um artigo na CLT que permite aos funcionários questionarem quando a empresa não zela por sua segurança, e eles poderiam recorrer caso se sentissem desconfortáveis ao ter contato com um colega que não se vacinou.”
 
A advogada lembra o entendimento do Supremo Tribunal Federal que considerou constitucional a vacinação compulsória contra covid-19 e uma decisão recente do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região entendendo que foi legítima a demissão por justa causa da funcionária de um hospital que se recusou a vacinar-se. “As decisões da Justiça do Trabalho estão caminhando nessa direção, entendendo que, conforme for a recusa do funcionário, a empresa poderá demitir por justa causa, mas sempre lembrando que antes disso é preciso orientar, notificar, advertir por escrito, até chegar no ponto da recusa veemente”, diz Marchi.
 
Neste momento, segundo a advogada, empresas discutem novas formas de estimular a vacinação como, por exemplo, bonificar funcionários que se vacinarem. “Minha recomendação tem sido não atrelar vacinação à premiação, porque o cumprimento às normas de saúde e segurança é obrigatório e não atrelado a algum bônus para quem as cumpra.” ” Uma saída encontrada por uma empresa cliente, diz, para estimular e controlar o status de quem se vacina foi oferecer abono do dia da aplicação.
 
A LafargeHolcim Brasil diz que está acompanhando por um aplicativo interno de saúde o status da vacinação dos empregados e, no momento, está focada em campanhas para estimular e orientar a segunda dose. A empresa tem 1,4 mil funcionários. “Com o app, conseguimos identificar onde está avançando mais e onde precisamos intensificar a campanha”, diz Fernanda Paiva da Cunha, gerente de saúde e segurança da companhia. Também há orientação sobre o “porquê todos devem ser vacinados, possíveis efeitos colaterais da vacina e como proceder”. “Abrindo um canal de diálogo com aqueles que porventura ainda tenham dúvidas ou alguma resistência.”