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Maersk mira expansão na logística por terra e ar

Fonte: Valor Econômico (14 de dezembro de 2020)

A Maersk prevê um crescimento forte no Brasil em 2021, puxado pela expansão das atividades e pela retomada do comércio, diz o presidente, Julian Thomas — Foto: Ana Paula Paiva/Valor


 
A Maersk, líder global no transporte marítimo de contêineres, está focada em ampliar sua operação no Brasil para além do porto. A empresa planeja expandir a movimentação de carga pela via terrestre, aérea e por cabotagem, além de planejar investimentos em armazéns e gestão logística.
 
“Temos a vantagem de ter um tremendo portfólio de clientes que usam nossos navios. Com esses contatos, pretendemos aumentar a oferta de serviços prestados”, afirma Julian Thomas, que desde setembro assumiu a presidência do grupo no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
 
O plano de ampliar a atuação na cadeia logística não é exclusivo ao Brasil. Faz parte de uma estratégia global do grupo, que atua em 130 países e opera 66 terminais portuários pelo mundo. No terceiro rimestre, a receita global foi de US$ 9,92 bilhões – apenas 1,37% abaixo de um ano atrás. Navegação marítima respondeu por 71%, mas o plano é que, no futuro, caia para 50%, com crescimento de serviços de operação logística.
 
Nos últimos meses, o grupo deu mais um passo na sua reformulação interna e incorporou mais dois negócios: a Damco, que faz transporte de carga fracionada e por via aérea, e a Safmarine, com forte atuação na África. A ideia é integrar melhor os serviços oferecidos.
 

Empresa vê BR do Mar com preocupação, já que grupos defendem proibição de armadores no transporte terrestre

 
No Brasil, a Maersk já é uma gigante. Além do transporte marítimo, o grupo é acionista em terminais nos portos de Santos (SP), Pecém (CE), Itajaí (SC), Itapoá (SC). É também forte em transporte pela via terrestre (via caminhões e trens) e em cabotagem, por meio da Aliança, empresa líder do mercado no país, que foi comprada em 2017, dentro da mega aquisição da Hamburg Süd.
 
Ainda assim, Thomas vê um grande potencial de expansão na oferta de serviços de ponta a ponta – que, no caso da Maersk, podem ir desde o transporte por via oceânica até o consumidor final. Para completar a carteira de serviços no país, uma prioridade será investir em novos armazéns, afirma ele.
 
O grupo também estuda aquisições no Brasil, que poderão acelerar esse movimento. “Há um potencial de crescimento inorgânico, com oportunidades que possam nos ajudar a dar um salto. Mas, no momento, não há nada concreto nesse sentido, é uma intenção, estamos olhando”, diz.
 
A cabotagem também está entre os segmentos nos quais a empresa quer continuar crescendo. Porém, sobre a reformulação de regras do setor, em discussão no Congresso Nacional, a chamada “BR do Mar”, há uma preocupação.
 
Isso porque grupos de caminhoneiros têm feito pressão para impedir que as empresas de navegação possam fazer também o transporte terrestre – o que inviabilizaria parte da operação atual da Maersk e todo seu plano de expansão. Essa proibição chegou a ser incluída no texto por meio de uma emenda, de autoria do deputado federal Fausto Pinato (PP-SP). No entanto, o artigo foi retirado do projeto de lei antes de ser aprovado e encaminhado à discussão do Senado. Ainda assim, trata-se de um ponto de atenção, avalia o presidente.
 
Para além dessa questão, Thomas vê as novas regras do setor com bons olhos, porém sem grande entusiasmo. “A cabotagem nos últimos anos tem crescido de forma exponencial, e o problema não tem sido a falta de capacidade dos navios, que é o principal foco da BR do Mar. Obviamente vemos com bons olhos qualquer medida que reduza custos. Porém, aquilo que a cabotagem mais precisa é de uma redução na burocracia, que hoje é um entrave. Por exemplo: para fazer um transporte rodoviário de Manaus a São Paulo, você precisa de dois documentos. Por cabotagem, são necessários 12. É importante que haja uma simplificação”, afirma.
 
A expectativa da companhia para 2021 é de muito otimismo no Brasil, segundo o executivo. A meta é crescer cerca de 20%, em faturamento. Mesmo com todas as incertezas no cenário macroeconômico, Thomas vê essa expansão como possível devido aos planos de ampliação dos serviços logísticos no país.
 
Mas até mesmo a perspectiva para o comércio marítimo é positiva, diz ele. Após um 2020 fortemente impactado pela pandemia, principalmente no segundo trimestre, a Maersk já vê uma retomada nas importações – nos últimos meses, houve uma recuperação muito acima do esperado e, até o início de dezembro, os navios que vêm ao Brasil continuam lotados. No caso das exportações, o impacto foi praticamente nulo, afirma.
 
“Ao longo do terceiro trimestre, houve uma retomada forte das importações. Não foi o suficiente para recuperar [a queda brusca dos meses anteriores], mas, no volume total, devemos terminar o ano quase empatados com 2019”, diz.
 
Para 2021, a projeção em movimentação é de um crescimento de 7% para as importações e entre 3% e 4% para as exportações. Em cabotagem, a perspectiva é uma alta entre 10% e 12% no próximo ano. “É claro que o cenário é ainda nebuloso, mas somos otimistas”, diz.
 
Ele reconhece que ainda há incertezas, principalmente diante da segunda onda da pandemia no Brasil, mas a avaliação do presidente é que o cenário visto no auge da crise não se repetirá.
 
“Obviamente é uma preocupação. Se houver novos ‘lockdowns’, o consumo poderá ser afetado. Mas a demanda tem se mostrado forte, o desempenho que temos visto no comércio online é notório. Além disso, a indústria aprendeu a lidar com a pandemia. Mesmo se houver restrição, a roda logística deverá continuar funcionando.”