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Após fusão com Fibria, Suzano já prepara novo ciclo de expansão

Fonte: Valor Econômico (09 de dezembro de 2020)

Schalka, presidente: além de crescer na fibra curta, empresa vai atuar nos mercados de celulose solúvel, viscose e bio-óleo — Foto: Claudio Belli/Valor


 
Quase dois anos depois da fusão de R$ 36 bilhões com a Fibria, a Suzano já está bem avançada na preparação de uma nova rodada de crescimento. Lastreada em cerca de 1,3 milhão de hectares de florestas cultivadas, que contribuem de forma decisiva para a competitividade de suas operações, a companhia vai ganhar mais escala em celulose de eucalipto, com a construção de outra fábrica em Mato Grosso do Sul, e entrar em novos mercados, como os de celulose solúvel, viscose e bio-óleo nos próximos anos.
 
“Hoje, tiramos apenas fibra e energia da árvore. Estamos olhando para a base florestal para extrair mais valor”, disse ao Valor o presidente da Suzano, Walter Schalka. Com uma produção de 11 milhões de toneladas por ano, a companhia já é a maior do mundo em celulose de eucalipto. E o maior, entre investimentos planejados, o projeto Jubarte, adicionará a essa capacidade 2,2 milhões de toneladas anuais de celulose, mediante desembolso de US$ 2,7 bilhões em Ribas do Rio Pardo (MS).
 

 
Havia expectativa de que a expansão em celulose pudesse vir pouco depois da incorporação da Fibria, mas o ciclo de baixa prolongado da matéria-prima dilatou prazos. A execução do projeto ainda depende da redução da alavancagem financeira, que tem sido mais lenta do que o esperado, como observou a Fitch Ratings em relatório, há cerca de uma semana. Mas se os preços da fibra permanecerem em recuperação e o câmbio contribuir, o caminho até o aval do conselho de administração pode ser relativamente curto a partir de agora.
 
Neste trimestre, a companhia já anunciou dois reajustes na China e o preço líquido chegou a US$ 500 por tonelada desde o dia 1º deste mês. Anteontem, aplicou mais um aumento, válido para Sudeste Asiático e Oriente Médio, elevando a cotação a US$ 550 por tonelada nesses mercados. Antes, em 12 meses, até setembro, já tinha reduzido em US$ 1,2 bilhão a dívida líquida, a US$ 12,2 bilhões. “Essa é uma demonstração inequívoca de que a Suzano continua gerando caixa, mesmo que os preços estejam baixos e o retorno não seja o adequado”, afirmou Schalka.
 
Em setembro, a alavancagem financeira, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em dólares, estava em 4,4 vezes, acima dos tetos estabelecidos em sua política financeira, mas abaixo das 4,9 vezes de dezembro. Em tempos normais, esse índice deveria ficar entre 2 e 3 vezes, e a companhia já indicou que poderá estar dentro desse intervalo até o fim de 2021.
 
Durante os ciclos de investimento, a política permite que o índice chegue a 3,5 vezes. Considerando-se que a geração de caixa de US$ 1,2 bilhão ao ano é suficiente para fazer frente a 100% do investimento estimado e a outros compromissos financeiros – portanto o projeto Jubarte não afetará a alavancagem -, a Suzano poderia anunciá-lo quando o índice estiver nessas 3,5 vezes.
 
Conforme Schalka, a companhia executará o investimento “assim que tiver a estrutura financeira adequada”. E a decisão não será afetada pelo anúncio de projetos concorrentes de celulose, concentrados na América do Sul. Com distância média entre fábrica e floresta de cerca de 60 quilômetros, a unidade de Ribas do Rio Pardo promete ser a mais competitiva de toda a indústria.
 
Para os analistas Daniel Sasson, Ricardo Monegaglia e Edgard Pinto de Souza, do Itaú BBA, em plena atividade, a nova fábrica terá custo caixa de produção de US$ 90 por tonelada, comparável a média de US$ 120 das operações existentes da companhia neste ano. O banco avalia que o projeto poderia destravar R$ 7 bilhões em valor à Suzano, cujo valor de mercado está em R$ 71 bilhões. Desde que a fusão com a Fibria foi consumada, a ação acumula alta de cerca de 40%.
 
Os compromissos relacionados à operação, sacramentada em janeiro de 2019, combinada a um cenário mais ácido de preços da celulose e à desvalorização cambial, pressionaram a alavancagem financeira, mas não imobilizaram a Suzano. Naquele mesmo ano, por exemplo, a companhia recorreu a R$ 933,4 milhões em créditos de ICMS para anunciar a construção de uma linha de conversão de papéis de higiene e papel toalha (tissue) no Espírito Santo – que entra em operação em fevereiro -, modernizar a unidade Aracruz e investir em base florestal.
 
Segundo Schalka, a celulose de fibra curta (que inclui eucalipto) será cada vez mais usada em lugar da fibra longa, por ser mais competitiva, inclusive na indústria de embalagens. Também será importante substituta dos produtos de origem fóssil, uma vez que é renovável, reciclável e biodegradável. “Queremos aumentar o mercado endereçável da fibra curta”, comentou.
 
A estratégia de crescimento passa ainda por produzir diferentes tipos de celulose. Além do tradicional “paper grade”, a companhia inovou ao fabricar celulose fluff (usada em fraldas descartáveis e absorventes higiênicos) a partir do eucalipto e, agora, planeja entrar no mercado da fibra solúvel. Conforme Schalka, uma das fábricas já em operação provavelmente será convertida para esse tipo de celulose. O plano é avançar nessa cadeia de valor, chegando à fabricação de viscose.
 
Nessa busca por riqueza, garante o executivo, a Suzano também quer ser um agente de transformação da sociedade. “A companhia transcende ser competitiva em celulose e entende que seu papel mais relevante é na sociedade”, disse. Sustentabilidade, ou ESG (do inglês environmental, social and governance), ganhou importância estratégica dentro da Suzano, que estabeleceu metas até 2030 de enfrentamento às mudanças climáticas e redução da desigualdade. “Só é bom para nós se for bom para o mundo”, reiterou.