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Bunge acelera processo de reestruturação e vê melhora nos resultados

Fonte: Valor Econômico (24 de agosto de 2020)

O argentino Raul Padilla, presidente de operações globais da Bunge: sem escalas da originação até o consumidor final — Foto: Divulgação


 
Em fase adiantada de um profundo processo de reestruturação de gestão e negócios iniciado em 2018, a americana Bunge, uma das maiores empresas de agronegócios do mundo, busca ganhar eficiência e agilidade em tempos de acirramento da concorrência nas operações de comercialização e fortalecer a participação de produtos de maior valor agregado nas áreas que elegeu como “core business”.
 
Segundo Raul Padilla, presidente de operações globais da multinacional, parte dos avanços obtidos com as melhorias em curso já pôde ser observada nos resultados do segundo trimestre. Como já informou o Valor, a Bunge encerrou o período com lucro líquido de US$ 516 milhões, 141% mais que entre abril e junho de 2019. As vendas líquidas registraram leve queda, mas permaneceram próximas de US$ 7 bilhões, e o volume movimentado cresceu 4 milhões de toneladas, para 38 milhões.
 
A forte demanda internacional por grãos e derivados, mesmo com a pandemia, foi fundamental para o desempenho positivo. Mas Padilla afirma que a mudança cultural e a simplificação do modelo de gestão em curso estão possibilitando que a Bunge aproveite melhor o cenário. “Com uma organização focada em cadeias produtivas, e não dividida por regiões, e a redução de custos relevantes que já tivemos, estamos melhor posicionados”.
 

 
Argentino, Padilla se tornou o principal executivo da área de operações da Bunge em meio às mudanças. Ganhou projeção como presidente da companhia no Brasil e na América do Sul, e, dado o peso do país e da região para os negócios – metade dos ativos do grupo estão em países sul-americanos, principalmente no Brasil e na Argentina -, continua radicado em São Paulo, embora agora viaje muito mais.
 
No segundo trimestre, Greg Heckman, CEO da multinacional que agora fica baseado em Saint Louis, e não mais em Nova York, creditou boa parte da melhora dos resultados ao avanço da originação de grãos (soja e milho) no Brasil, que registrou nova colheita recorde na safra 2019/20 e onde os produtores estavam dispostos a acelerar as vendas graças aos preços elevados, inflados pelo câmbio. E, para esse tipo de atividade, a nova organização baseada em cadeias produtivas foi particularmente favorável.
 
Um exemplo simples: a maior parte do volume de soja originado pela companhia no Brasil é em Mato Grosso, e o principal destino desse grão é a China. Antes das mudanças, havia um número maior de escalas entre subsidiárias do grupo. Como essas transações dentro da própria empresa deixaram de existir, a operação se tornou mais ágil e mais rentável. “Hoje fazemos uma transação só”, resume Padilla.
 
Com a carência estrutural de alimentos da China, o executivo acredita que a demanda do país asiático por grãos e carnes vai continuar crescendo de forma expressiva nos próximos anos, e que o Brasil tem todas as condições de ampliar ainda mais as vendas ao mercado chinês e a participação no comércio global de alimentos de forma geral. Assim, as perspectivas também são positivas para óleos e farinhas, outras divisões vitais para a Bunge.
 
No caminho dessa provável ampliação de mercado para produtos do agronegócio brasileiro no exterior, contudo, alguns potenciais obstáculos terão que ser contornados. Um deles são as consequências de disputas comerciais entre países importantes para os negócios, que podem não ser positivas para outros parceiros. E o outro é a questão da sustentabilidade socioambiental da oferta dos alimentos comercializados, principalmente com as atenções do mundo mais voltadas à Amazônia do que nunca.
 
Nas mudanças que fez para manter sua relevância no comércio e no processamento de produtos agrícolas, a Bunge também deixou algumas áreas de lado. No Brasil, onde deverá comprar duas esmagadoras de soja da Imcopa (em recuperação judicial) no Paraná para fortalecer suas posições nessa frente, o segmento de açúcar, que apresentava resultados negativos, foi desmembrado e incluído em uma joint venture com a BP, enquanto os negócios de margarinas, mesmo considerados rentáveis, foram vendidos à JBS.
 
Para concluir a reestruturação, ganhar eficiência nas áreas que definiu como prioritárias e voltar a romper a barreira de US$ 45 bilhões em vendas globais anuais, a Bunge, que nasceu em 1818 em Amsterdã, também está modernizando sistemas e processos. Afinal, qualquer um com mais de 200 anos precisa se cuidar.