Login
Associe-se
NOTÍCIAS

Pandemia traz perdas recordes no trimestre

Fonte: Valor Econômico (30 de julho de 2020)

A temporada de balanços do segundo trimestre, que ganhou fôlego nesta semana, vai ser desastrosa, com prejuízos recordes de empresas de vários setores da economia. E mesmo que o efeito da pandemia possa ter sido menor do que se calculava no fim de março, os analistas ouvidos pelo Valor consideram que uma retomada robusta ainda está distante.
 
A XP Investimentos calcula que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização das empresas do Ibovespa caia 73% em relação ao mesmo trimestre de 2019. Embora a estimativa de receita seja de alta de 2% na mesma base de comparação, os analistas da XP acreditam que a margem Ebitda cairá 6,1 pontos percentuais.
 

As maiores perdas serão no setor aéreo, com estimativa de queda de receita de 90% para a Gol e 88% para a Azul
 

O relatório da corretora lembra que vários indicadores de atividade do segundo trimestre foram levemente menos negativos do que o esperado, sinalizando que o fundo do poço pode ter sido menor do que o inicialmente imaginado. No entanto, a XP manteve a estimativa de queda de 6% no PIB de 2020 e de alta de 2,5% em 2021, com o argumento de que ainda há sinais dúbios para o ritmo de recuperação econômica no país.
 
O banco UBS, em relatório sobre o impacto do novo vírus sobre os resultados das empresas latino-americanas, afirmou que apesar de ser um trimestre de fortes perdas, o mês de junho trouxe certa estabilidade e os balanços já divulgados mostraram que os números estão marginalmente melhores do que era o estimado. Na carteira do banco, há 86 companhias brasileiras, das quais apenas quatro publicaram resultados. O UBS estima que o lucro de seu portfólio se reduzirá 53% no segundo trimestre na comparação com mesmo período do ano anterior. “Embora as expectativas de crescimento dos lucros tenham caído 76 pontos percentuais desde o início do ano, ele se manteve estável no último mês.”
 
Mas o momento ainda é de cautela. Para Enrico Cozzolino, analista do banco Daycoval, o mercado de ações está comprador porque tem liquidez, mas o fundamento não é favorável. Ainda que a deterioração não tenha sido tão intensa quanto se estimava em março, as projeções de PIB são ruins e uma crise de saúde traz muitas incertezas. “As vendas foram menores e as margens apertaram. O mercado já precificou boa parte dos efeitos e olha para frente. É difícil imaginar que haja uma nova valorização intensa e consistente nas ações por causa dos resultados. Haverá, sim, mais volatilidade.”
 
O retrato do segundo trimestre servirá de base para se medir a capacidade de adaptação das companhias nesse período de forte turbulências. A XP listou pontos a serem observados: expectativas ou metas até o fim do ano, alavancagem e liquidez, planos de digitalização e sustentabilidade e governança.
 
A temporada deverá ser especialmente dura, diz Pedro Galdi, analista de investimentos da corretora Mirae Asset Management, para os setores mais afetados pela restrição da mobilidade, como de aviação, locação de carros, concessões de rodovias e distribuição de combustíveis
 
Os carros parados na garagem derrubaram a demanda por combustíveis e seus derivados, como óleos e lubrificantes, também não pagam pedágios. O setor de turismo também será fortemente afetado, com as empresas de aviação sofrendo as piores quedas da história e as locadoras de carros com os pátios cheios e praticamente sem clientes na maior parte do período.
 
O relatório de prévias do BTG Pactual apontou que as maiores perdas acontecerão no setor aéreo, com a estimativa de perda de receita de 90% para a Gol e 88% para a Azul, além de uma retração no Ebitda de 94% e 106% das respectivas empresas. As empresas de locação de carros e gestão de frotas Localiza, Locamérica, Movida, JSL e Tegma terão suas receitas encolhidas em 42%, 46%, 45%, 18% e 54%, respectivamente. Para as concessionárias de rodovias pedagiadas, o BTG estima retrações de 25% no faturamento da CCR e de 18% para Ecorodovias.
 
“Já era esperado que esses setores sofressem mais, mas há alguns poucos destaques positivos, como as incorporadoras, que soltaram prévias fortes e terão bons resultados, puxadas pela demanda residencial, e o setor de mineração, que será beneficiado pela exportação”, diz Galdi.