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"A segurança psicológica dos funcionários é essencial para inovar e sair da crise"

Fonte: Valor Econômico (30 de julho de 2020)

Marcelo Cardoso, da consultoria Chie — Foto: Divulgação


 
É difícil falar em segurança psicológica em um momento no qual muitas empresas estão demitindo e outras lutando para sobreviver. Mas para inovar e sair da crise é preciso garantir um ambiente onde as pessoas não se sintam sozinhas, estejam próximas aos times e seguras para divergir umas das outras. É da divergência de opiniões, ou da diversidade cognitiva, que soluções inovadoras podem surgir no momento de crise, segundo Marcelo Cardoso, fundador da consultoria Chie. “A segurança psicológica é fundamental para lidarmos com uma crise para a qual ninguém tem resposta, com um ambiente de insegurança e incerteza e que exige construir novos caminhos”, afirma Cardoso em entrevista à editora do Valor, Stela Campos, na série semanal ‘Carreira em Destaque’.
 
Ferramentas de meditação, de apoio psicológico, terapia e mindfulness contribuem para o bem-estar e conforto psicológico dos funcionários, mas não funcionam sozinhas, segundo Cardoso. “Vi recentemente uma empresa grande trazendo essas ferramentas e até terapeutas especializados em traumas, mas permitindo líderes que mandam WhatsApp para as pessoas às 11 da noite, convocam-as aos finais de semana e não dão espaço para almoço. É preciso respeitar as pessoas, os limites e o tempo delas”, afirma.
 
O executivo, que tem uma trajetória com passagens pela Natura, Grupo Fleury e GP Investimentos e hoje trabalha com cultura organizacional, diz que vê a emergência de duas organizações nesse momento da pandemia. Há aquelas que têm conseguido criar um ambiente novo, onde reveem colaboração, assumem a vulnerabilidade, entendem que “não adianta ficar cobrando as mesmas metas”. E há aquelas que querem fazer mais do mesmo, e mais rápido, que seguem as premissas do modelo meritocrático e, diante da incerteza, praticam a liderança do comando e controle dos funcionários.
 
Em sua visão, a liderança fundamental hoje é aquela que abre espaço para a divergência e entende que as respostas virão de uma nova construção coletiva de propósitos, valores e ideias. Cardoso recorre à uma metáfora utilizada pelo especialista em complexidade Dave Snowden. No começo da pandemia, Snowden falou que “existia uma lacuna profissional e ética das pessoas em posições de liderança para criar soluções para enfrentar a crise”. “Ele usou uma radiografia que mostrava um nódulo no pulmão e, ao lado, um gorila vinte vezes maior que o nódulo. Dos 24 radiologistas do experimento, 83% viam apenas o nódulo. Todo mundo via o micro. Mas a gente, nesse momento, precisa encontrar os 17% que viam o gorila. Essas pessoas estão à frente do sistema. Precisaremos trazê-las à tona e a segurança psicológica é o que habilita pessoas assim a terem voz”.
 
Aos indivíduos, Cardoso orienta que não se deixem sequestrar pelas emoções negativas e que procurem entendê-las, nomeá-las e, assim, encontrarem caminhos para lidar com elas. “Dá para se regular emocionalmente na pandemia? Depende dos recursos de cada pessoa. Mas ajuda se conseguirmos criar repertório interno, nos entender e criarmos estruturas que nos deem suporte. O que tem funcionado na consultoria é criar comunidades de apoio para que as pessoas não se sintam sozinhas nesse momento”.
 
Assista a entrevista na íntegra: