Login
Associe-se
NOTÍCIAS

A arte de criar engajamento em tempos de incertezas

Fonte: Valor Econômico (06 de julho de 2020)

Desde que fomos lançados a um novo formato de trabalho, os desafios organizacionais ganharam novos contornos. Em velocidade exponencial, uma parte significativa de profissionais foi trabalhar em suas casas e desmontou os sistemas de trabalho em áreas coletivas, coloridas e despojadas que pareciam rechear os pensamentos sobre um ambiente moderno.
 
Em um recente estudo global da consultoria McKinsey & Company, mais de 50% das empresas entrevistadas entendem que o trabalho em qualquer lugar permanecerá. E a maioria delas afirma que não voltará à rotina de escritório, mesmo após a pandemia.
 
Somado a isso, vivemos momentos em que a imprevisibilidade sobre o emprego, as questões de saúde e os dramas econômicos elevam o grau de ansiedade.
 
Diante desse contexto, os desafios na gestão de pessoas estão ampliados. Afinal, como manter a cultura da empresa?; quais os novos rituais para as trocas informais que desenhavam o dia a dia do trabalho?; como dar senso de propósito e pertencimento às equipes distantes?
 
Mais do que nunca, é fundamental explicar o que está sendo feito e os motivos que pautam a tomada de decisão. O líder precisa ampliar as conversas sobre os objetivos e dedicar tempo para ouvir as preocupações, interesses e angústias do time.
 
Segundo Dan Cable, professor de comportamento organizacional da London Business School, a jornada para obtenção de sentido e propósito exige experimentação e diálogo. Não basta reforçar o objetivo da empresa ou tentar iluminar o outro. É necessário que cada um busque conectar suas convicções e atividades. Precisa ser pessoal. E esse é o momento de resgatar exemplos e colocar o indivíduo para buscar o sentido do que faz.
 
O líder pode inspirar com exemplos para dar repertório, mas é de responsabilidade de cada um compreender o alcance de suas atividades e o propósito de realizá-las. Encontrar espaço para debater esse sentido e reforçar os motivadores é uma alavanca de engajamento. É importante trazer aspectos de impacto do trabalho na vida das pessoas, mostrar o resultado e o alcance do que é feito.
 
Outro aspecto importante vem dos estudos do pesquisador europeu, Wilmar Schaufeli, que constatou que os líderes que dedicam tempo para conversar sobre o indivíduo, aumentam o engajamento médio em três vezes.
 
São os líderes que conversam sobre a pessoa que conseguem um nível de conexão maior do que aqueles chefes que apenas falam das atividades objetivas do trabalho. A ideia de conversar sobre o desenho de vida do indivíduo não é nova. Faz parte da teoria contemporânea sobre carreira que entende que os papéis exercidos na vida estão relacionados com o trabalho.
 
Conversar sobre saúde física e emocional é parte da atividade de um líder. Nesse momento de angústia, é ainda mais necessário incluir esse tema nas conversas.
 
Em minhas palestras ouço com frequência: “meu chefe nunca conversou sobre nada além das metas trimestrais e dos objetivos da área”. Essa distância gera desconexão e nesse cenário de pandemia revela um abismo que separará os verdadeiros líderes daqueles que são apenas controladores de planilhas.
 
Outro fator para aumentar conexão e engajamento é mostrar vulnerabilidade. O líder deve mostrar que tem dúvidas e que possui fraquezas. Isso não significa incompetência, mas disposição para cooperar e aprender. O fato de ser líder não o coloca em uma posição distante e intocável. A vulnerabilidade é uma chave para a conexão e um caminho para a cooperação.
 

Por Rafael Souto
Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da consultoria Produtive Carreira e Conexões com o Mercado. Especialista em planejamento e gestão de carreira de executivos.