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OCDE pede ação forte e rápida contra a crise do coronavírus

Fonte: Valor Econômico (03 de março de 2020)

O coronavírus representa o maior perigo para economia mundial desde a grande crise financeira de 2008/2009 e pode reduzir pela metade o crescimento global neste ano, alertou ontem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
 
No melhor cenário, o crescimento mundial cairá 0,5 ponto percentual e ficará em 2,4%. Mas, se a crise do vírus se ampliar e o impacto econômico for pior, a expansão global pode ficar em só 1,5%.
 
A entidade conclamou os governos a agir “com força e rapidez” para conter a epidemia e seu impacto econômico, com medidas que incluem redução de impostos, flexibilidade no mercado de trabalho e facilitação de crédito para os setores afetados globalmente.
 
Diversos governos já anunciaram planos de estímulo econômico. O Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciaram ontem que estão prontos a atender emergências financeiras para países mais vulneráveis.
 
A OCDE aponta impacto adverso sobre a confiança, os mercados financeiros, o setor de viagens e disrupção nas cadeias de valor, que levaram à revisão para baixo em quase todas os países do G-20.
 
No melhor cenário, o crescimento da economia global deve cair para 2,4% neste ano, ante a projeção anterior de 2,9%, que já era fraca. Isso ilustra como a contração da produção na China está sendo sentida no mundo todo, refletindo o papel-chave e crescente da China nas cadeias globais de valor, viagens e mercados de commodities, diz a OCDE. Assim, a epidemia acaba tendo efeitos similares em outras economias, embora em menor escala.
 
A OCDE estima ainda que este primeiro trimestre poderá ter até resultado global negativo.
 
No caso da China, a revisão foi forte, com o crescimento caindo para menos de 5% neste ano, queda de 0,8 ponto percentual. Mas, para 2021, o país pode voltar a crescer mais de 6%, à medida que a produção recupere gradualmente os níveis de antes da epidemia.
 
Japão, Coreia do Sul e Austrália serão particularmente atingidos, devido à ligação mais forte com a China. A OCDE nota que, se a crise causada pelo vírus for contida, o impacto nas economias mais expostas pode então ser positivo e ajudar o PIB global a crescer 3,3% em 2021, ou 0,3 ponto porcentual a mais que previsto em novembro.
 
No entanto, se a intensidade da epidemia persistir, com contágio crescente em outras partes da Ásia, Europa e América do Norte, a perspectiva piora. Uma epidemia de grande amplitude pode causar recessão no Japão e na zona do euro e estagnação nos EUA.
 
Por isso a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, insistiu na importância de mais estímulos. Ele destacou que políticas macroeconômicas de apoio podem ajudar a restaurar a confiança e na recuperação da demanda, à medida que o surto diminuir. Mas admite que isso pode não compensar a disrupção imediata que resultou em fechamentos de fábricas e restrições a viagens, por exemplo.
 
A OCDE defende que trabalho flexível seja usado para preservar empregos. Sugere que os governos implementem medidas temporárias de redução e adiamento de pagamento de impostos para a maioria dos setores afetados, incluindo viagens, eletrônicos e automotivo. Nos países mais atingidos, propõe liquidez adequada para permitir aos bancos ajudar as empresas com problemas de fluxo de caixa, enquanto as medidas de restrições continuarem. E o setor público precisa reduzir os atrasos de pagamentos ao setor privado.
 
Em termos macro, a entidade sugere expandir a liquidez para os bancos; assegurar que a política monetária responda a condições extremas dos mercados; e reforçar investimentos públicos.
 
Na Itália, que sofreu o 17º mês consecutivo de declínio da atividade industrial, o governo anunciou no domingo plano de injetar € 3,6 bilhões na economia. O governo alemão, que prima por defender controle nas finanças públicas, diz agora que examina um pacote de estímulos, se o coronavírus se tornar uma crise global.
 
No Reino Unido, o Banco da Inglaterra acenou com “todos os passos necessários para proteger a estabilidade financeira e monetária”. O Federal Reserve, BC americano, já deu sinais de que vai agir de modo “apropriado” para apoiar o crescimento. E o Banco do Japão promete injetar liquidez nos mercado e comprar ativos, indicando que entrou no ritmo anticrise.