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Sindicatos em baixa

Fonte: Jornal A Tribuna (23 de dezembro de 2019)

Em todo o mundo, o número de trabalhadores sindicalizados vem declinando de modo acentuado. Esse movimento foi acelerado a partir dos anos 1980, e a taxa de sindicalização em países como França, Holanda, Reino Unido e Suíça caiu mais de um terço em relação aos níveis dessa época, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os sindicatos tiveram seu apogeu com o crescimento da produção industrial, que criou grandes fábricas, com trabalhadores concentrados em enormes plantas bem definidas, mas é forçoso reconhecer que o mundo do trabalho foi profundamente alterado.
 
Há mudanças estruturais – o avanço dos serviços, o crescimento do trabalho autônomo, a tecnologia alterando as relações patrão-empregados – e questões de conjuntura, como o desemprego e a consequente precarização do trabalho. O resultado é a queda no interesse pela sindicalização, que atinge níveis muito baixos na maioria dos países.
 
No Brasil, o quadro é o mesmo. O IBGE, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, apontou que a taxa de sindicalização do mercado de trabalho continua em retração e atingiu seu menor nível em sete anos. Em 2018, apenas 12,5% das pessoas ocupadas eram sindicalizadas, com queda de 11,9% em relação ao ano anterior. Destaque-se que, em 2012, o percentual de sindicalizados atingia 16,1% dos trabalhadores no País.
 
A maior taxa de sindicalização no Brasil é registrada no setor público (25,7%), demonstrando a transformação que vem ocorrendo nos últimos anos. Na indústria, ela é de 15,2% (em 2012, era de 21,1%, e em 2017, de 17,1%), revelando a mudança no perfil dos filiados a sindicatos, cada vez mais vinculados ao funcionalismo público, que trabalha em ambientes comuns, tem interesses conjuntos para defender e não sofre grandes riscos em seus movimentos reivindicatórios, protegidos pela estabilidade de suas carreiras e funções.
 
Não há dúvida de que a queda da sindicalização tem a ver com a expansão do trabalhador por conta própria e dos informais, que não têm carteira assinada. Por outro lado, os sindicatos foram bastante enfraquecidos nos últimos anos, parte em decorrência de dificuldades internas na sua atuação, mas também afetados pela reforma trabalhista implementada, principalmente com o fim da contribuição sindical obrigatória, que reduziu drasticamente a receita das entidades.
 
O desemprego tem parcela de responsabilidade na diminuição dos sindicalizados no Brasil. Mas há claramente uma transformação nas relações de trabalho, que exige profunda reflexão dos sindicatos: se eles pretendem continuar existindo e cumprir suas funções, precisam rever metas, estratégias e formas de atuação e contato com suas bases, utilizando novos recursos tecnológicos e ajustando seu discurso e prática à nova realidade que existe na sociedade atual.