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Setor portuário terá avanços com novas análises de dados

Fonte: A Tribuna (13 de setembro de 2019)

“Precisamos agora é enfrentar o desafio de torná-la mais conhecida”, avaliou Karen Kilroy (Foto: Leopoldo Figueiredo/AT)


O transporte marítimo internacional de cargas e, consequentemente, as atividades portuárias se preparam para um novo salto de qualidade, que garantirá redução de custos, economia de tempo e, portanto, maior eficiência.
 
Esses ganhos serão possíveis com a adoção de sistemas baseados na tecnologia blockchain, que já começam a ser utilizados principalmente no monitoramento da navegação comercial. A expectativa é que, durante a próxima década, essas ferramentas sejam adotadas efetivamente pelo mercado e seus efeitos, consolidados.
 
Os impactos da tecnologia blockchain nos setores de navegação e portuário foram destacados por especialistas norte-americanos em reuniões com empresários do Porto de Santos e autoridades do sistema portuário do Brasil na tarde de ontem, em Austin, no Texas, Estados Unidos.
 
O grupo integra a comitiva do Porto & Mar 2019, que, nas últimas terça (10) e quarta-feira (11), realizaram visitas técnicas ao Porto de Houston (também no Texas) e, nessa quinta-feira, conheceram o polo tecnológico de Austin.
 
A agenda nos Estados Unidos complementa a programação do Porto & Mar – Seminário A Tribuna para o Desenvolvimento do Porto de Santos, realizado pelo Grupo Tribuna no último mês de junho, em Santos. A viagem foi organizada em parceria com o corpo consular dos Estados Unidos no Brasil, o Departamento de Comércio do governo americano e a Câmara de Comércio Brasil Texas (Bratecc).
 
Sistemas
Em reuniões na tarde de ontem, os integrantes da comitiva conheceram mais detalhes dos sistemas com base na tecnologia blockchain – que envolve a análise de gigantescas quantidades de dados de objetos (cargas, por exemplo) e processos (transporte marítimo), de forma segura e sem risco de fraude (qualquer alteração é registrada, gerando uma nova versão do dado).
 
Essa inovação foi destacada em reuniões com a CEO da startup Kilroy Blockchain, Karen Kilroy (veja abaixo), e com o executivo de Desenvolvimento de Negócios, do setor de Soluções de Supply Chain da IBM Blockchain, da IBM norte-americana, Erik Bergeman.
 
Há cerca de três anos, a IBM passou a desenvolver um sistema de blockchain para reduzir tempo e custos no transporte marítimo internacional de contêineres. A ideia envolve a digitalização dos documentos necessários para os serviços de importação e exportação (despachos de cargas, por exemplo) e seu processamento em um ambiente digital seguro, a prova de fraudes e com transparência.
 
A ferramenta ainda mostra o andamento do serviço, evidenciando o tempo que leva cada etapa da atividade. Inicialmente, esse projeto, batizado como Tradelens (expressão em inglês formada pelas palavras trade, que significa comércio, e lens, lentes), teve o apoio da armadora líder no transporte marítimo de contêineres, a Maersk.
 
Testes iniciais apontaram que, com essa solução digital, é possível reduzir de 10% a 20% o tempo do serviço e de 5% a 7% seu custo.
 
Ampliação
O Tradelens foi lançado oficialmente em dezembro do ano passado e, atualmente, reúne armadoras que respondem por 62% dos contêineres movimentados no transporte marítimo. O projeto também passou a ter a participação de terminais, operadores de cargas e autoridades aduaneiras. A IBM já conversa com a Organização Mundial das Aduanas para ampliar a atuação de sua ferramenta, explicou Bergeman.
 
Após o lançamento do Tradelens, outras empresas de tecnologia e até outros países (caso da China) passaram a desenvolver suas próprias ferramentas de blockchain para o transporte marítimo. Para o representante da IBM, é provável que, nos próximos anos, tenhamos uma rede de redes blockchains da navegação.
 
“De qualquer forma, essa é uma solução que tem se desenvolvido e é abraçada pelo mercado. Trabalhamos para garantir maior agilidade, menores custos e transparência. Não há fraude e tudo pode ser checado. Mas, por outro lado, os dados são sempre protegidos. Uma armadora não tem acesso aos dados da outra. Esse é, efetivamente, o futuro da navegação”, destacou Erik Bergeman.
 
Parte sensível
A CEO da startup Kilroy Blockchain, Karen Kilroy, também destacou os impactos dessa tecnologia para a navegação e a atividade portuária.
 
“Blockchain é uma parte sensível tanto de processos de automação como para validar dados do transporte marítimo. E certamente terá um papel considerável no futuro do setor. Precisamos agora é enfrentar o desafio de torná-la mais conhecida. Para muitos, blockchain é algo relacionado a criptomoedas, mas vai muito além disso. Seu potencial é imenso”, afirmou a executiva, que se prepara para lançar, nos próximos meses, um livro sobre as várias utilizações dessa tecnologia.
 
Trabalhadores devem se preparar
A visita técnica ao Porto de Houston, um dos complexos marítimos norte-americanos que mais cresce na movimentação de cargas, evidencia a importância do desenvolvimento tecnológico para a expansão do setor. E também mostra que os trabalhadores devem se preparar para esta nova realidade, de modo a aproveitar as oportunidades do segmento.
 
A análise é do presidente da Câmara de Santos, Rui De Rosis, que nos últimos dias, ao lado de empresários do cais santista e autoridades do Governo Federal, como parte da comitiva Porto & Mar 2019, conheceu as instalações do porto e do polo tecnológico de Austin (cidade a cerca de três horas de carro de Houston).
 
O presidente do Legislativo de Santos apontou a importância dos avanços tecnológicos e de investimentos em infraestrutura para o crescimento das atividades portuárias de Houston, no Texas.
 
“Um porto é sempre uma ferramenta estratégica de desenvolvimento de sua região. Vimos isso aqui, em Houston, e sabemos disso em Santos. Mas para realizar esse potencial, há a necessidade do apoio de toda a sociedade e das autoridades”, afirmou.
 
Presença
De Rosis destaca a importância da integração entre um porto e a cidade onde está instalado, principalmente para sua expansão e a geração de empregos. E nessa parceria, há a necessidade de se preparar os trabalhadores do setor para que acompanhem o desenvolvimento das atividades.

De Rosis ressaltou necessidade de Câmara estar presente e buscar conhecimento portuário (Foto: Irandy Ribas/AT)


 
“O porto cresce, a tecnologia muda e o profissional portuário deve se preparar, se qualificar para continuar atuando com qualidade nesse mercado”, disse.
 
Diante do papel do setor portuário na economia de Santos, o presidente da Câmara comentou sobre a importância de um representante do legislativo municipal participar das visitas técnicas a portos promovidos pelo Grupo Tribuna há mais de uma década.
 
“A Câmara tem de estar presente nessas atividades, sempre buscando maior conhecimento portuário e urbanístico”, explicou.