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Cabotagem em alta

Fonte: A Tribuna (04 de julho de 2019)

Assim como o transporte ferroviário começou a receber atenção especial desde a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, a cabotagem também atraiu novo olhar. Trata-se do transporte marítimo de cargas apenas entre os portos do Mercosul. Essa modalidade ainda tem participação modesta no setor portuário. Já a navegação de longo curso (para outros continentes) domina 75% do mercado, mas é inegável que a cabotagem é opção interessante para substituir a alta concentração dos transportes na rede rodoviária.
 
Não é apenas a greve dos caminhoneiros, que tem alta probabilidade de se repetir, que torna arriscada a concentração do transporte de cargas nas rodovias. Também se deve considerar como séria desvantagem na opção do País pelas estradas a incidência de roubos e acidentes. Ou ainda as más condições rodoviárias, principalmente nos outros estados. Esse último problema é considerado a causa da baixa produtividade do agronegócio brasileiro frente a seus concorrentes externos. O produto agropecuário nacional é de menor custo que o americano na fazenda, mas quando ganha as rodovias, torna-se mais caro.
 
Portanto, as ferrovias e a cabotagem merecem todas as atenções para diversificar os modais à disposição das cargas. No Brasil, o uso dos trens está concentrado nas necessidades do minério de ferro e nos investimentos da Vale e nas operadoras que atendem o agronegócio. Já a cabotagem, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) é responsável por 15% de toda a navegação no País (as outras modalidades incluídas nessa conta são a de longo curso e o transporte nos rios).

Migrar uma parcela cada vez maior das mercadorias hoje transportadas pelo modal rodoviário para a cabotagem é um desafio que exige investimentos e convencimento. Isso porque uma quantidade maior de produtos seria despejada nos complexos portuários, que precisam ter melhores acessos e mais integração às estradas que levarão as cargas aos locais de destino, se for o caso das regiões do Interior. Porém, se os acessos ao Porto de Santos, o maior do País, já são alvo de queixas e deixam a desejar, imagina-se a condição dos outros portos, com estruturas bem menores e reduzido volume de movimentação de mercadorias. Além disso, é preciso conquistar a confiança do mercado na cabotagem.
 
Os modais ferroviário e de cabotagem têm ampliado sua participação no transporte de mercadorias do País, porém a uma velocidade muito pequena. Para reduzir de forma considerável o domínio das rodovias, é preciso que os donos das cargas pressionem o setor público para que dê prioridade a essa mudança, desenvolvendo planos sérios de transporte com essa visão. A capacidade estatal de investimento é quase nula, mas a disposição do governo para conceder serviços é uma oportunidade de crescimento para a cabotagem.