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Mudanças climáticas: Nossos portos estão preparados?

Fonte: Informativo dos Portos (25 de julho de 2018)

As mudanças climáticas irão afetar os portos em todo o mundo num futuro não muito distante. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), uma organização científica das Nações Unidas (ONU), a elevação da temperatura média da superfície dos oceanos é um dos principais indicadores dos impactos decorrentes dessas mudanças. Essa elevação da temperatura, impulsionada pelo aquecimento global, segundo pesquisadores australianos da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), está provocando tempestades cada vez mais intensas que afetam cidades com inundações repentinas, mas também deixam campos e terras agrícolas secos.
 
Na última década, o Brasil tem vivenciado casos de desastres naturais causados pela combinação de eventos meteorológicos e oceanográficos extremos, principalmente em regiões estuarinas onde estão instalados alguns dos principais portos, como Rio Grande, Itajaí, Paranaguá, São Francisco do Sul, Santos e Vitória.
 
Em Itajaí (SC), em 2008, 2011 e 2017 foram registrados estragos provocados pela combinação de enchente, ressaca e elevação da maré. Em 2008, esses eventos causaram ainda o assoreamento do rio Itajaí-açu e a destruição da estrutura dos berços de atracação do Porto de Itajaí. Naquele ano, o prejuízo estimado com o fechamento do canal de acesso e a paralisação das operações foi de mais de R$ 1 milhão, apenas para os armadores. Os portos de São Francisco do Sul, Itapoá e Imbituba também tiveram seus acessos fechados.  
 
Os eventos extremos de 2017 chegaram próximo do Porto de Paranaguá, mas um sistema de oceanografia operacional em atividade há cinco anos no complexo portuário paranaense permitiu monitorar as condições meteocenográficas e otimizar o replanejamento das operações.
 
Portos e terminais que se utilizam desse sistema de oceanografia operacional seguem uma tendência mundial de investimentos no monitoramento de eventos extremos. Isso porque boa parte dos portos europeus e da América do Norte já conta com sistemas validados por observações de longo prazo das condições meteoceanográficas, fundamentais à definição de estratégias adequadas de adaptação. Esses conhecimentos viabilizam, aos portos, ações rápidas e planejadas de respostas a emergências incorporadas em seus planos de gerenciamento de riscos.
 
Fenômenos que preocupam
Os terminais portuários viabilizam o acesso ao mercado internacional e atuam como catalisadores do crescimento econômico. Ao mesmo tempo, estão cada vez mais expostos aos riscos associados a mudanças climáticas. O tipo e a magnitude dos impactos variam para cada local. Os impactos diretos afetam a infraestrutura e as operações, devido às limitações impostas por “janelas” de maré, intensidade dos ventos, correntes e índices pluviométricos cada vez mais intensos.
 
Os riscos e os custos associados a essas mudanças demandam o desenvolvimento de capacidades adaptativas e de resiliência operacional dos terminais, levando-se em conta que cientistas alertam para uma tendência de aumento das temperaturas muito clara nos últimos 40 anos, sendo que 2016 foi o ano mais quente já registrado na história moderna.
 
Efeitos das mudanças
O impacto mais noticiado do aumento das temperaturas globais é o derretimento das camadas de gelo existentes nos polos e em áreas montanhosas, bem como a expansão térmica da água dos oceanos, que causam a elevação do nível do mar. Por outro lado, o aumento das temperaturas globais também altera a circulação dos ventos, os regimes das chuvas e torna mais intensos os eventos extremos como tufões, enchentes, ressacas e ondas de calor.
 
Enchentes podem deixar estruturas portuárias e os diversos modais que integram a cadeia logística fora de operação por horas ou até dias. Também causam a sedimentação das vias navegáveis, acarretando mais obras de dragagem para conter a limitação do calado operacional. As mudanças climáticas contribuirão para o aumento dos custos com seguros e financiamentos e dos riscos para novos investimentos, onerando a infraestrutura e os serviços portuários.
 
Por isso, a adaptação dos terminais portuários demanda investimentos em tecnologias de sistemas de oceanografia operacional, a adoção de ações e medidas de engenharia de forma conjunta, bem como estudos para o entendimento detalhado dos perigos impostos pela elevação do nível do mar e efeitos das mudanças climáticas. Por meio desses estudos, os portos podem construir uma base de conhecimento técnico e otimizar ações de planejamento para uma abordagem robusta para a mitigação dos riscos associados às mudanças climáticas.