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Greve dos caminhoneiros trava funcionamento do porto de Santos

Fonte: O Globo (30 de maio de 2018)

SÃO PAULO. Maior terminal portuário da América Latina, o Porto de Santos está operando com sérias restrições, causando sérios prejuízos a exportadores, importadores, armadores e operadores de terminais. Os embarques de contêineres para exportação estão praticamente paralisados, e os desembarques estão próximos do limite da capacidade de armazenagem dos terminas.
 
Estimativa do Sindicato das Agências de Navegação Marítima de São Paulo (Sindamar), cerca de 250 mil toneladas deixaram de embarcar no porto até sexta-feira, dia 25, o equivalente a 17,86 mil contêineres, sendo os maiores volumes destinados à Europa, além de Estados Unidos e Ásia.
 
Com isso, muitos navios que atracaram no por nos últimos dias tiveram que zarpar com muito menos carga do que haviam programado. Os prejuízos às empresas de navegação já passam de US$ 100 milhões desde o início da greve, estima o Sindamar.
 
De acordo com o Sindamar, até os embarques a granel, geralmente de grãos e açúcar, começam a ser afetados. Os embarques de contêineres ocorrem somente quando cargas vindas de portos da América do Sul são descarregados e colocados em navios de longo curso para outros destinos. Mas isso responde a apenas 20% do movimento de contêineres do porto.
 
Em razão da paralisação dos caminhoneiros e dos incidentes causados pelo movimento, a Comissão Estadual de Segurança Pública nos Portos (Cesportos) elevou o grau de segurança dentro dos terminais ao nível 2 na quinta-feira da semana passada.
 
Em nota divulgada nesta terça-feira, o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) manifestou “indignação e preocupação em relação aos sérios problemas que vêm afetando as operações portuárias em Santos, em função do movimento de paralisação promovido pelos caminhoneiros”.
 
Os operadores queixam-se do tempo de duração da greve e cobram ações efetivas das autoridades para restabelecer a ordem, “o que reforça os prejuízos causados à comunidade portuária em todos os seus segmentos operacionais”. E atacam ainda a “inércia” do governo federal.
 
“Os prejuízos são incalculáveis e irreparáveis aos operadores portuários e a toda economia nacional refletindo negativamente a imagem do país no exterior”, diz o Sopesp.
 
— A capacidade operacional do porto está bem limitada, principalmente nos terminais de exportação — disse uma fonte do setor de navegação.
 

O abastecimento de combustível para os navios e equipamentos que operam nos terminais tem sido feito por barcaças, o que pode ser prejudicado caso os petroleiros confirmem a paralisação de três dias a partir desta quarta-feira.
 
“A princípio não acreditamos que essa paralisação de três dias provoque atrasos nos abastecimentos, mas, se a greve perdurar haverá impacto, certamente, como já ocorreu na vezes anteriores”, alerta o Sindamar.
 
A Aldebaran Transportes, transportadora com sede em Santos e que tem importadores entre seus principais clientes, está com sua frota de 15 caminhões parada há mais de uma semana a espera do fim das manifestações no Porto.
 
— Desde o dia 21 não conseguimos mais entrar no porto por conta da paralisação. Nossos funcionários, que são contratos, não podem fazer greve, mas também não conseguem carregar o caminhão, ou devolver os contêineres porque estão sendo ameaçados — disse Gerson Almeida de Castro, gerente operacional da empresa.
 
Castro disse ainda que a Aldebaran também contrata autônomos para atender clientes quando a demanda é maior. Segundo ele, a empresa cobra do importador cerca de R$ 1,8 mil para levar um contêiner de Santos para a capital paulista. Se o transporte for feito por autônomo, o valor que ele recebe varia de R$ 1 mil a R$ 1,2 mil.
 
— Depende do peso da carga e da característica. Quando é química, é mais cara — disse.
 
Segundo ele, é difícil reajustar o valor do frete porque os importadores fazem a cotação entre dois a três meses da chegada do produto, por navio, no Porto de Santos, e não aceitam mudança no valor previamente estabelecido.
 
— Às vezes são liberadas diferentes cargas no porto no mesmo dia e a nossa frota não dá conta. Por isso precisamos do terceirizado para dar agilidade. É um braço importante da cadeia. Sem autônomo ninguém consegue atender — explicou.
 
A expectativa de armadores e operadores é de que, mesmo havendo a normalização do acesso dos caminhões aos terminarias de Santos, serão necessários alguns dias para se regularizar o funcionamento no porto. Outro risco a essa normalização, contudo, é a paralisação dos fiscais e auditores da Receita Federal, que iniciaram um movimento no último dia 25 e que se estende ate 4 de junho.
 
De acordo com o Sindamar, caso o desembaraço das cargas de importação não ocorra com a celeridade necessária, uma vez que já há congestionamento de contêineres nos pátios dos terminais, haverá problemas e os navios perderão ainda mais tempo esperando para embarcar o desembarcar no porto.
 
Questionada sobre a situação do acesso ao porto que estão bloqueados pelos caminhoneiros e se havia solicitado à polícia a sua liberação, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), responsável pelo porto de Santos, afirmou ajuizou ações judiciais contra as interdições. Mas não respondeu se acionou a polícia para a desobstrução das vias de acesso.
 
A estatal portuária paulista limitou-se a afirmar que “os acessos marítimos estão em pleno funcionamento e em operação, não havendo restrição no porto”.