Login
Associe-se
NOTÍCIAS

Padrões de qualidade e desempenho regulam atividades em portos e auxiliam a busca por eficiência

Fonte: PortoGente (16 de janeiro de 2018)

O Evento WebSummit Porto Sustentável apresenta a visão de Adilson Luiz Gonçalves, pesquisador do Núcleo de Estudos Portuários, Marítimos e Territoriais (Nepomt) e do Núcleo Avançado da Associação para Colaboração entre Portos e Cidades (RETE), da Universidade Santa Cecília (Unisanta).

WebSummit Porto Sustentável – Recentemente o senhor orientou alguns trabalhos acadêmicos com o enfoque no processo de adequação do complexo portuário santista ao conceito de Greenport. Quais foram as principais conclusões obtidas?
Adilson Luiz Gonçalves – Inicialmente, cabe informar que o estudo foi desenvolvido pelos agora engenheiros civis Bianca Lima Pereira, Eneias Santos da Silva e Tuani Godoy Ferreira, enquanto Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de graduação concluído em 2016, sob minha orientação. A crescente preocupação com a sustentabilidade nos diversos meios inclui a utilização racional de recursos naturais e o futuro do planeta. Nesse contexto, as iniciativas “verdes” estão cada vez mais presentes em diversas atividades do nosso cotidiano. Não é diferente na indústria portuária. Legislações nacionais e internacionais já foram criadas para portos novos e existentes, englobando questões de sustentabilidade e criando normas cada vez mais rigorosas destinadas à criação de projetos que minimizem os impactos ambientais nas operações portuárias. Porém, existe um conflito entre os benefícios gerados pelos portos e seus terminais, como propulsores do desenvolvimento econômico de determinadas regiões e/ou cidades, e os inevitáveis efeitos adversos para o meio ambiente causados por essas atividades. Devido a esse conflito, e para adaptarem-se cada vez mais as exigências impostas pelas esferas governamentais, surgiu o conceito de “Greenports” (Portos Verdes), que busca estabelecer novos padrões de qualidade e desempenho, além de regular as atividades portuárias para garantir a qualidade de vida da população nas cidades portuárias e hinterlândias, e tornar o porto mais competitivo e visível no mercado. As questões ambientais vêm sendo discutidas há muito tempo, e a crise ambiental, que já era evidente na década de 1960, agravou-se ao longo das décadas posteriores, em função de uma série de desastres e desequilíbrios ambientais. Daí vem a crescente preocupação com a utilização sustentável dos recursos naturais e com o futuro do nosso planeta para as próximas gerações, com as “iniciativas verdes” cada vez mais presentes em nosso cotidiano. Nos empreendimentos portuários, os impactos ambientais podem ser decorrentes de: execução de obras de abrigo e de novas frentes de atracação; dragagens de berços e canais de acesso; derrocamentos; aterros; enrocamentos; infraestrutura de armazenagem; edificações em geral; acessos terrestres e outros. Estes, quando dimensionados de forma inadequada, podem gerar alteração da linha de costa, supressão de vegetação, modificação no regime dos corpos d’água, impactos negativos em ecossistemas e poluição de recursos naturais. Assim, as atividades portuárias podem causar impactos negativos ao meio ambiente, potencializando riscos à saúde e à segurança locais, além de comprometerem ecossistemas. Daí a importância da implantação da gestão ambiental nesse âmbito, exigindo não apenas o cumprimento das normas existentes, que devem ser constantemente aprimoradas, como fomentando a adoção de as boas e melhores práticas ambientais na operação e administração portuárias.

WebSummit Porto Sustentável – Sabe-se que os investimentos necessários para realizar as adequações são vultosos. Como convencer efetivamente as empresas que operam no segmento desta necessidade?
Adilson Luiz Gonçalves – Cerca de 95% do comércio exterior brasileiro passa pelos portos, o que não é muito diferente nos demais países. Assim, não há como descartá-los do sistema. Esse lembrete é importante para ressaltar que o chamado “Custo Brasil” envolve todas as deficiências da cadeia logística nacional, que envolve: a carência de infraestrutura de silagem, nas fontes produtoras; a discrepância na matriz nacional de transportes; as dificuldades de acesso às instalações portuárias; as condições das rodovias; o roubo de cargas; a burocracia estatal; a falta de autonomia dos portos públicos; a falta de visão de setores empresariais, que poderiam, ainda mais num estado altamente industrializado, como São Paulo, instalar indústrias próximas aos portos, entre outros fatores. A emissão de poluentes e ruídos nas operações portuárias, e a gestão de riscos são alguns dos itens a serem enfrentados. A emissão de material particulado e atração de vetores de doenças, sobretudo na operação de granéis sólidos estão nesse escopo. O estado da arte das tecnologias de movimentação de cargas permite ações que mitigam esses efeitos. A adoção dessas tecnologias e melhores práticas permitem melhor produtividade das operações, bem como a redução de risco de suspensão das operações. Também é fato que muitos importadores exigem certificações ambientais de seus fornecedores, o que torna esses investimentos condição de competitividade. A redução dos custos também envolve a agilização de processos, que inclui a tarifação portuária, com ênfase na dragagem, por exemplo. Assim, numa visão sistêmica, holística, os investimentos devem ser feitos em toda a cadeia logística, ou seja, envolve não apenas a iniciativa de empresários, como de todos os entes envolvidos no processo.

WebSummit Porto Sustentável – Como o complexo portuário santista se comporta quando comparado aos portos que são referência em sustentabilidade no restante do mundo? Como você enxerga nossa evolução em direção a este objetivo? O que poderia ser melhorado?
Adilson Luiz Gonçalves – Alguns dos principais portos do mundo possuem programas relacionados ao conceito de “Green Ports”, sejam em maior ou menor escala. O Porto de Long Beach, por exemplo, é o segundo porto de contêineres mais movimentado dos Estados Unidos, tendo vários projetos implantados para melhoria da qualidade ambiental como o programa “Ar Limpo” dos caminhões, que reduziu, em pouco menos de três anos, mais de 90% da poluição gerada por caminhões. Em 2012, o programa foi permanentemente extinto, por não haver mais caminhões velhos em circulação no porto. O programa de incentivo “Navio Verde” visa manter a redução de emissão de óxidos de azoto causadores de poluição atmosférica, mediante utilização de navios dotados de motores movidos a combustíveis menos poluentes. Já o Porto de Singapura abrange instalações e terminais que mantêm o fluxo comercial marítimo. O transbordo ali realizado é o maior do mundo, sendo o porto responsável por metade do suprimento anual de óleo cru para navegação, 20% do tráfego mundial de contêineres. Em Roterdã, na Holanda, o destaque desse porto é o “Ghost Terminal” (Terminal Fantasma). Ele é assim chamado porque não há motoristas dirigindo caminhões, nem operadores manobrando empilhadeiras, pois toda a operação é informatizada e controlado por uma torre. No âmbito da logística de transportes, Rotterdam dispõe de diversos meios de transporte, como: rodovias, hidrovias, ferrovias e dutovias. Apesar da eficiência dos acessos rodoviários, a Autoridade Portuária incentiva a utilização dos demais, menos poluentes, inclusive oferecendo mecanismos virtuais para que seus clientes consultem sobre alternativas de transporte. O Porto de Roterdã utiliza embarcações de serviço movidas a combustível menos poluente e também incentiva “navios verdes”.